Prefácio
Dentro dos quadros da Literatura Cearense, nos
nossos dias, João Dummar Filho surge, irrecusavelmente, como um dos valores
novos que mais se destacam, sendo um poeta que caminha, a passos largos, para a
conquista de uma posição definitiva em nossas Letras. Para tanto, basta que
mantenha fidelidade aos ideais poéticos que o iluminam e trabalhe, com de
dedicação, sua vocação literária.
Recolho essa impressão da leitura de
seus poemas, em que ele demonstra apreciável capacidade de cantar e de erguer a
voz para louvar as cousas eternas e registrar o que, no efêmero, tem alguma
resplandecia e encontra expressão no
plano emocional ou espiritual.
O livro ora entregue ao público revela
os seus cuidados artesanais na elaboração dos versos, o seu trabalho com as
palavras fundamentais e secundárias, todas unidas, harmonicamente, para a
criação de momentos significativos em sua arte poética.
Li, com maior interesse, os poemas
intitulados Tempos de Opressão e Sendas da Liberdade. Na primeira parte, ele
considera que o grande papel da poesia é “fazer vibrar a estrutura do outro, na
poderosa de diapasão das palavras não ditas, na beleza exuberante dos símbolos
a brotar da dimensão espiritual” E vê, com alguns acentos whitmanianos, a
América Pungente, os problemas sociais na dicotomia riqueza-pobreza, a ressaca
da vida e dos sonhos, as contradições do mundo, a tecnocracia, a sombra do medo
e a ausência de amizades. Homenageia Fernando Pessoa e relembra o poeta e avô
Demócrito Rocha, o cantor do Rio
Jaguaribe.
Na segunda parte, destaca o látego das
palavras na força do poema e da metáfora; lembra a necessidade de fé e de
esperança numa era de flagrante desumanidade; louva a liberdade, a utopia e a
douçura das palavras; presta reverência à memória do poeta Jader de Carvalho e
canta a cidade perdida em néon, o amor, poder do verbo, as emoções, as chuvas,
as tardes, os pássaros, as florestas, as fontes, a busca de Deus, as sendas
transcendentais, os plenilúnios que inspiram a vida boêmia e outros temas de
igual interesse, não esquecendo de pagar tributo à grandeza de San Juan de la
Cruz, o grande poeta da Espanha e santo da Igreja.
E assim João Dummar Filho vai
construindo os seus caminhos, numa poesia que busca legitimar-se na procura de
fontes verdadeiras, no encontro com as cousas simples e perenes, no louvor
justo e sincero, na nostalgia da vida perdida, no amor aos semelhantes, na paz
e nas trilhas da esperança.
Creio que o poeta não chegou à definição
final de seu discurso lírico, pois a linguagem poética passa, necessariamente,
por inúmeras experiências de fundo e forma. Mas procura evitar a
horizontalidade, conseguindo resultados que o recomendam como um autor em
permanente ascensão, amadurecendo cada vez mais a poesia. E para isso dispõe do
principal elemento: o talento, que é tudo, em Literatura.
Artur
Eduardo Benevides
Presidente da Academia Cearense de Letras